Escrever uma história que seja ao menos razoável é um desafio. Tolkien trabalhou em quatro versões de “Roverandom” (1), e mesmo assim o livro só ficou pronto graças ao esforço de terceiros.
Às vezes o escritor dá sorte e se encontra especialmente inspirado, e se os embalos da inspiração são devidamente aproveitados, o trabalho frutifica; às vezes o escritor sabe exatamente o que quer fazer, como sabia Machado em “A Mão e a Luva” (2), de maneira que a disciplina se encarrega de boa parte do serviço; às vezes é complicado.
Eu, por exemplo, ando às voltas com um livro pelo menos desde 2006. Terminei a primeira versão dele em 2013; enquanto o revisava entendi que ele não me satisfazia e comecei a reescrevê-lo à mão. Páginas depois, ainda não achei bom. As obrigações da vida foram se impondo, o tempo rareou, fui me envolvendo com outros projetos e agora, em meados de 2020, o livro não só não está pronto, como minha previsão mais otimista é de que eu volte a trabalhar nele somente em 2022. Supondo que eu conclua a empreitada naquele mesmo ano, o livro terá levado 16 anos em confecção!
1 – A informação está na apresentação de Christina Skull e Wayne G. Hammond para a edição de “Roverandom” da editora Martins Fontes, página XIV.
2 – Na edição da Editora Globo para “A Mão e a Luva” existe uma nota de Machado de Assis explicando suas intenções com a obra.
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Bragança Paulista, 2020