Ninguém gosta de estar errado, só um espírito especialmente elevado se alegra toda santa vez que é corrigido. O mais comum, depois d’uma correção, é a pessoa se retrair amuada e secretamente teimosa ou não aceitar o erro e dobrar, triplicar, quadruplicar a aposta, nem que pra isso tenha de recortar a realidade e tenha de tapar olhos e ouvidos freqüentemente, ainda mais hoje, quando, para muitas pessoas, reconhecer erros mínimos equivale a colapsar o edifício da própria personalidade; o sujeito admite uma falha e depois não sabe mais quem é, fica perdido e começa a cultivar, conscientemente ou não, inúmeros sentimentos ruins dentro de si.
Oras, emitir opiniões instantâneas só agrava o problema, pois uma opinião instantânea não espera informações claras e abundantes sobre coisa alguma, ela simplesmente brota out of thin ass air, portanto seus defensores são brutalmente contrariados e desmentidos o tempo inteiro, e ninguém gosta de estar errado…
Talvez tenhamos, então, neste ciclo, a mais vaidosa das espirais, verdadeiro sorvedouro do entendimento humano.
*
Bragança Paulista, 2020