A parte de Sensui em “Yu Yu Hakusho” é pra mim, a despeito dos esforços de Togashi para tirar seus personagens da zona de conforto e para apresentar um pouco mais do seu universo, a mais fraca da série; ela se arrasta perdida e absurdamente inverossímil; esta parte possui contudo uma das lições mais contundentes que já vi em animes ou mangás, a lição do triste fim de Amanuma.
Amanuma foi um rapazinho criado largado pelos pais. O menino passava infindáveis horas enfiado em estações de videojogos e perambulava pelas ruas da cidade como bem entendia, nos horários que bem queria. Isolado, o garoto se achava muito superior aos seus pares, não queria saber de amigos. Sensui, o vilão da vez, ex-detetive espiritual irremediavelmente mau, louco e burro, aproveitou o descaso familiar no qual vivia Amanuma e o aliciou para seu grupo tenebroso; ou seja, a criança conheceu um sujeito estranho e perigoso, passeou com ele, jantou com ele e se uniu ao grupo dele, claro, porque crianças e pessoas com síndrome de superioridade caem fácil em enganos.
Acontece que, no decorrer da ação, Amanuma morre.
Ver uma criança morrendo de maneira tão crua e realista é pesado, ainda que a criança em questão seja uma personagem de anime ou mangá e não exista completamente.
Amanuma morreu porque acreditar que era superior aos seus pares não o impediu de se tornar um idiota útil descartável numa causa genocida; Amanuma morreu, sobretudo, por causa do descaso familiar, pois uma criança tão desamparada não tem como se defender de nenhum mal, seja o mal que ataca da sociedade, seja o mal que germina e cresce dentro dela mesma.
Crianças devem ser cuidadas e protegidas, orientadas ao Bem, senão podem acabar facilmente nas mãos das piores pessoas do mundo, vivendo tragédias das mais dolorosas em ambientes imundos.
A quantidade de Amanumas que existe por aí é deprimente.
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Bragança Paulista, 2020